domingo, 12 de julho de 2015

LIDA POÉTICA DE UM SÁBADO MODORRENTO

DA SÉRIE COSTA FERREIRA











QUANDO O DIA AMANHECE

Quando o dia amanhece
E cada flor de amargura floresce
E começo a vagar por vagas lembranças
De um paraíso que se perdeu
Em meio a tantas lambanças

Quando o dia amanhece
Eu procuro pelos porquês da vida
Eu procuro pelos buquês das vitórias
Eu procuro pelas buscas de outrora
Eu me procuro no fundo escuro da minh’alma

Quando o dia amanhece
Mutum parece uma prostituta
Depois de uma noite de labuta
Uma mulher dilacerada
Uma cidade dilacerada
E nada na noite foi encanto

Quando o dia amanhece
Enquanto a vida tece suas teias
Enquanto meu ego tateia
Uma migalha da última ceia
Para saciar o que resta de desejo

E então o dia de fato amanhece em Mutum

11.07.2015



PENSANDO EM AMAR ALGUÉM

Pensando em amar alguém
Quem venha toda noite me ver
Que tenha toda nódoa do prazer
Que se contenha em me satisfazer
E que seja meu alguém

Pensando em amar alguém
Sob o murmúrio de uma cidade infernal
Sob o augúrio de uma infelicidade bestial
Sob a tortura de uma mente tanto quanto anormal
Sob a busca incansável pelo além

Pensando em amar alguém
Que tenha o peso de uma bruma
Que tenha os pelos de uma brisa
Que tenha o espelho de uma Yara
Que me tenha como alguém

Pensando em amar alguém
Que tenha o mar em seus olhos
Que tenha marca de qualidade
Que tenha matemática como hobby
Que me mate todo dia ao amanhecer

Pensando em amar alguém
Que não me faça penar de saudade
Quando estiver saído para passear na tarde
Que tenha fogo nos lábios que arde
Que me salve de qualquer loucura na noite

Pensando em amar alguém
Pensando em amar
Pensando
Pensando


11.07.2015


DISCANDO PARA A SANIDADE

Pego o telefone celular
Sem saber para quem vou discar
Vou digitar um ditado popular
Vou digitar num ditador populista
Para dinamitar meu país

Pego carona num pégasus
Para pairar sobre a cidade
Para espanar toda vaidade
De uma cidade feita Narciso

Pego qualquer nome no contato
Teclo para consumar o fato
Ouço o outro lado dizer alô
Soluço poemas do amor
E fim de papo

Então me pego no colo da noite
Discando para a sanidade
Gritando por socorro
No meio do sono da cidade


11.07.2015



EU TENHO QUE VENCER O DRAGÃO

Eu tenho que vencer o dragão
Que vem em forma de copo
Que vem em forma de corpo
Que vem em forma de coito

Eu tenho que vencer o dragão
Que vem galopante pela noite
Galante feito Marilyn Monroe
Que vem sussurrante na nuca

Eu tenho que vencer o dragão
Que vem santificando o erro
Que vem insultando o enterro
Que vem eternizando o efêmero

Eu tenho que vencer o dragão
Que habita o íntimo do meu ser
Que está habituado a me vencer
Que está atuando em qualquer ter

Eu tenho que vencer o dragão
Mesmo que danifique meu coração
Mesmo que desmitifique minha ilusão
Mesmo que desnude
Mas que eu mude
Como um mudo que encontra todas as palavras
Para sua lavra divinal




11.07.2015



ERA PARA SER MÁGICA

Era para ser mágica
A noite que passamos juntos
Remusicando todos os assuntos
Entre duas bocas que se tocam

Era para ser mágica
O toque de teus dedos
Ressignificando todos meus segredos
E degredando todos meus medos

Era para ser mágica
A lágrima que caia de meus olhos
Mas o sangue não era tomate em molho
Mas o sangue era a morte disfarçada de amor

Era para ser mágica
A noite que passamos juntos
No fim dois defuntos
Oh! Que noite trágica


11.07.2015



NEM O CÉU

Nem o céu pode ser tão escuro
Como os muros dentro de mim
Como um murro na ponta da faca
Como um mundo de faz de conta

Nem o céu pode ser tão obscuro
Quanto o absurdo que paira em meu ser
Quanto os abusos de poder em Mutum
Quanto um grito surdo no meio da noite

Nem o céu pode ser tão claro
Quanto os estragos que trago comigo
Quanto os avisos de perigos na estrada
Quanto às trilhas que levam a lugar nenhum

Nem o céu pode ser tão claro
Quanto aos abalos que baleiam meu coração
Quanto aos tragos de tragédia em que me embriago
Quanto aos abrigos em que habito durante a tempestade

Nem o céu mais escuro
Nem o céu mais claro
Vai me dar  algum futuro
Se o futuro me custa caro



11.07.2015


ENTRE O AMOR E SEJA LÁ O QUE FOR

Entre o amor e uma granada na mão
Para salvar a nação do inimigo
Para saltar de paraquedas
No meio do nada, no meio da noite

Entre o amor e um prato de grama verde
Para ver se a vida me concede mais um dia
Para ver se a via-expressa expressa algum sentimento
Para ver a expressão de dor no seu rosto

Entre o amor e um pranto de sangue na manhã
Por ter perdido todo o tempo em uma noite
Por ter pensando e não existido
Por ter pecado e não ter se arrependido
Por ter se tragado

Entre o amor e uma grana alta na conta
Por ter que fazer de conta na conta do prazer
Por ter que fazer hora com a cara de quem se ama
Por ter de fazer vista grossa
Na sessão de graça
Por achar engraçado tudo que é ingrato
E o amor se perde
Entre pedidos de pizzas e perdição




11.07.2015


EU SEI QUE VOCÊ
  
Eu sei que você acha tudo diferente
Quanto estou na sua frente, quando te faço um flerte
E uma flecha de cupido atravessa teu coração
E por uma fresta tudo vira festa dentro de ti

Eu sei que você acha tudo estranho
Quando não sabe o tamanho do desejo que começa a sentir
Quando não sabe o tanto que eu te amo
Quando não sabe nem a palavra exata para se definir

Eu sei que você quer ir embora daqui
Embora você queira ficar sempre perto de mim
Embora você não queira que esse momento tenha fim
Afinal, você quer um final feliz para nós dois

Eu sei que você quer fingir que nada acontece
Que nem uma flor fenece, nem o dia anoitece
Mas a dúvida paira feito uma eterna dívida
Dividindo seu desejo entre um beijo e uma busca

Então eu não sei mais nada doravante
Se você se entrega, se você se estraga
Qual a minha fala, qual a minha falha
E por onde se atalha para chegar ao seu coração



11.07.2015



NÃO DIGO BOA NOITE

Não digo boa noite para a noite escura
Não disco o número da mulher
Que escuma pela boca
Na boca da noite maldita
Na boca de fumo do fumo que vomito

Não digo boa noite para a nota de falecimento
Do estranho que entrou na contramão
Do estrago que fez a contradição
Da tradição que traiu a razão
Da estranha sensação de não sentir mais nada

Não digo boa noite para a notícia no telejornal
Para a polícia que participa do pó
Para a política que promete o paraíso
E projeta o apocalipse
Para a apólice de seguro que nada me assegura

Não digo boa noite para o perigo
Que mora pouco abaixo do umbigo
Que me utiliza para atos imprecisos
Para o aviso de silêncio no hospital
Para a falta de juízo e a falta de juiz no tribunal

Não digo boa noite para quem diz boa noite
Mas que te apunhala pelas costas na boa
Mas que te apedreja com toda pressa do mundo
Mas que se apodera com o aumento de preço
E nem em apreço pelo meu desejo de existir

Não digo boa noite
E vamos em frente
Até que o dia amanheça
E eu apareça para te amar


11.0.2015

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