sábado, 18 de julho de 2015

EXPOEMAS I

DA SÉRIE COSTA FERREIRA



AQUELE QUE PERDE

lembra do nosso último encontro
não sei se foi no pronto-socorro
não sei se foi no ponto de ônibus
não sei se virou conto ou poesia
só sei que se foi com o findar do dia

lembra do nosso último abraço
não deixando espaço entre nossos corpos
não demarcando território 
apenas braços estendidos e enlaçados
feito laço de vaqueiro sobre o bezerro

lembra do nosso último beijo
e nossos lábios estourando de desejos
e nossos lábios sussurando rimas
feito sábios dissecando o mundo
feito sábios dissertando sobre frutos podres

lembra do nosso último adeus
e nossos dedos cortando o ar
e nossos dedos apontando o luar
e nossos segredos sendo sepultados
e nossos segredos sendo degredados

lembra e vê se esquece
pois a lembrança enlouquece
aquele que perde
aquele que não percebe que a vida segue



FIM DE NOITE FRIA

sem saber o que fazer
na face da terra
a gente inventa a guerra
a gente invade outro planeta

sem saber o que dizer
diante da face de Deus
a gente frequenta a Igreja
a gente enfeita a garagem

sem saber pra quem torcer
quando a seleção joga
quando só vemos joio
jogado na porta de nossas casas

sem saber de nada
sem saber nadar
para atravessar o mar de lamas
para atravessar a mata de lobos
sem saber fazer lobby
sem ter hobby sexta-feira a tarde
sem disparar o alarme
quando a violência acontece

fim de papo, fim de noite
fria


FOICE E MARTELO

era uma noite etérea
era uma nota de rodapé
era uma nova era
era tudo que se espera

mas aí foi ficando escuro
mas aí foi se erguendo muro
mas aí foi sendo foice e martelo
mas aí não deu certo 

agora buscando novos caminhos
agora embrulhando novos presentes
agora emboscando novos inimigos
agora bradando sob novas bandeiras

mas o sonho continua sendo o mesmo
todo mundo junto todo mundo janta
todo mundo dono de tudo
todo mundo dominando tudo
tudo de todos, novas regras
novo jogo
e o sonho sempre será o mesmo



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