A nossa
série Pentalogia Poética dessa semana traz poemas de Gisélio Jacinto de
Alencar, que coincidentemente, é seu aniversário. Confesso que foi coincidência
mesmo. Já estava na nossa pauta desde semana passada publicar poemas desse
poeta que é mutuense de coração, já que nasceu em Penha do Capim, terras de
Aimorés.
Os cinco
poemas são transcritos do livro FRAGMENTOS PERDIDOS. Buscamos aqui mostrar diferentes
focos que a poesia de Gisélio Jacinto de Alencar nos oferece. A busca pela
métrica em Além das Nuvens e da Lua, seu lado filosófico em Filosofando Sobre A
Paixão, seu lado religioso em Explicando O Porquê da Fé, um poema classificado
por nós como pop em Minha Vida, Veia Sangue e a aproximação de si em Minha
Intimidade.
ALÉM
DAS NUVENS E DA LUA
(SONETO)
Meus
sonhos estão sempre além das nuvens
E pairo
sobre estrelas para compor um verso
Conquisto
uma e outra e as encontro
Mas elas
tímidas são ainda resistentes.
Já me
confundi com a nuvem sobre mim
Me absorvi
em sua escuridão,
Pois a
luz se compõe acima dela e
Pairo,
ao ver-me entre as suas correntes.
Ansioso
fico na berlinda na espera
Ou procuro
a aura do seu manto,
Me guardo
para aquela que se insinua
Mas de
outra quero sim o que revela
Pois meus
sonhos vão além do meu encanto
Além
das nuvens, muito além da lua.
FILOSOFANDO
SOBRE A PAIXÃO
Para todas
as coisas existe uma razão
Mas a
razão não existe em todas as coisas,
Pois elas
existem nem sempre com motivo
E a
pior delas é a paixão.
Paixão não
dá razão e nem se explica
Nem motivo
tem e nem comenta o porque,
Pois quem
se apaixona sem medida
Não mede
as consequências e nem vê.
Digo pois
que a paixão é inconsequente
E pode
acontecer sem nenhuma explicação
Pois a
paixão cega a razão da gente
Então paixão
não é razão aparente
Razão é
amar e ser amado,
Mas amar
sem ter medida, isto é paixão.
EXPLICANDO
O PORQUÊ DA FÉ
A fé
não descerá de seu degraus
Pois ela
quer o infinito do alto
E mais
ainda...
A fé é
a procura mais constante.
Ela nunca
acabará ela jamais morrerá.
Onde há
vida, a fé ali estará,
Pois é
ela a sua mola propulsora
E leva
e trás toda a certeza.
Se acerca
de todos os seus anseios
E te
leva e te instrui.
As suas
montanhas mais íngremes
Ela contigo
subirá.
Construirá
a sua casa, seu sonho,
Mesmo que
obstáculos existam.
A fé
sempre haverá de existir,
Pois é
ela a razão do ser vivente
Que busca
o seu ideal e luta e acredita
Como um
navio que leva dentro de si
A alma
sempre em frente
MINHA
VIDA, VEIA SANGUE
Há um
carro que desliza em um chão de predra
A procura
de um lugar para estacionar
E é
assim que parece estar havendo,
Nas canções
da minha vida,
Se solto
o freio, passa do ponto,
Se freio
já passou do lugar.
Mas ainda
quero cantar com o motor
Que é
como o meu coração,
Que ronca
e sofre por passar nesta estrada
Que tem
pedra, poeira barro e subida,
Minha vida,
Que empaca
no estribilho, ao ar livre
Mas põe
o pau para quebrar
Pois aqui
é nervo,
É veia
e sangue, tem de lutar.
MINHA
INTIMIDADE
Gosto
de passear dentro de mim
E rever
meus conceitos, meus valores,
Para ver
de perto a minha intimidade
E sentir
as batidas do meu coração.
Pois o
meu íntimo é cheio de atalhos.
Há ali
muitos caminhos e encruzilhadas.
Vejo neles
as nascentes de perseverança
Que formam
cachoeiras vislumbrantes,
Descendo
com ruídos quais chocalhos.
Treme o
peito quanto bato contra mim
Para buscar
nele uma solução.
Encontro
muito mais que eu procurava
Nas coisas
que em mim guardadas
Resolvem
minha questão
Embora um pouco
demoradas.
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