NOTA DO BLOG: Primeiros capítulos do conto (ou novela) de SERVILHA CORTAZAR (pseudônimo) carecendo ainda de correções ortográficas bem como digitais. Para os amigos fazerem aquela crítica sincera.
O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ
O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ
O Preço Pela Primeira Vez pretende
ser a primeira história de uma suposta trilogia trágica: Trilogiando
Tragicamente.
Seguido por A Última Reconciliação e
Trágica Sedução, esta pequena novela não tem nenhuma pretensão de ser a melhor
novela já escrita. É minha primeira história longa depois de alguns contos, que
levo a um desfecho final. Não espere um happy-end, estou trilogiando
tragicamente. É pra chamar atenção para o animalismo que cada um de nós carrega
dentro do nosso ser.
CAPITULO I
A sineta soou e Afonsinho
despediu-se da sua colega. Em passos lentos, com semblante sorridente,
cumprimentava fazendo um desce-e-sobe com a cabeça para as pessoas que passavam
por ele.
Entrou na sala de aula e sentou na
carteira. Era aula de ciências. Daí a pouco a professora começou a falar de
células e suas partes. Afonsinho bem que estava interessado em células. Em um
conjunto de células que compunha o corpo de sua colega ao lado.
Considerado lindo, atraente, provocador de sorrisos
de todos os lábios femininos, por mais tímidos que fosse. Na escola era um
aluno mediano, sempre com nota necessária para se aprovado. Já havia sido
reprovado duas vezes na oitava série no colégio estadual, à noite.
Ao dia Afonsinho trabalhava de balconista
no comércio de secos e molhados de seu pai. Com dezesseis anos de idade, sabia
a arte de conquistar garotas com seu olhar profundo e caridoso e com suas
palavras doces e cativantes. Fazia derreter corações, mesmo dos duros como
pedra.
Na escola, na rua, nas festinhas,
era um sucesso diante do plantel feminino. Sempre era uma paquera diferente.
Era Jaqueline, era Adriana, era Rosângela e tantos outros nomes. Mas às vezes
não guardava o nome. Era Almerita, era Erondina. Às vezes era loura, outras vezes
era morena. Mas que diferença fazia? Nome, cor; isto não importava. O que valia
era o momento, o prazer de estar com alguém. O lugar? Onde desse, onde
encontrasse, onde começasse a rolar algum lance. Quantas? Contara apenas até a
décima sétima... Depois as oportunidades começaram a se intensificar. Chegou a
ser cinco em uma semana. E a vida foi sento entre trabalho, paqueras e um
pouquinho de estudo.
Uma vez seu pai reclamou da presença
indevida de garotas no estabelecimento.
Nunca teve um namoro sério e
duradouro e apesar de tantas paqueras, de tantas chances, Afonsinho ainda se
mantinha virgem. A virgindade para ele não era como um câncer como era para
alguns de seus colegas. Conservava ele alguns princípios religiosos: Rezar ao
se levantar e ao se deitar. Fazer o sinal da cruz quando estava passando em
frente à matriz. Tomar bênção e chamar os mais idosos de senhores e senhoras.
Não frequentava muito a vida da comunidade religiosa. O padre estava idoso e
cansado. As missas eram verdadeiras ladainhas. Afonsinho, certa vez, foi
coroinha. Mas desistiu logo. Somente de vez em quando ia à missa.
CAPITULO II
Entre tantas fãs do jovem galã
estava Meire, vizinha de Afonsinho. Ela não estudava e nunca havia estado a sós
com ele. Às vezes achava que só o admirava porque todas as garotas o admiravam.
Todas as vezes que tinha que comprar alguma coisa no estabelecimento comercial
ao lado, antes de por os pés na rua, já se imaginava diante dos olhos castanhos
do balconista, que certamente estaria lá, entre o balcão e as prateleiras ao
fundo, com suas empoeiradas garrafas de vinho tinto. Sabia que Afonsinho sempre
notava o seu embaraço ao pedir a mercadoria e ela sempre trazia para casa, além
do embrulho na mão, aquela lembrança na cabeça: o balconista singelamente
trajado, com um jeito maroto de atender, de ir buscar a mercadoria em uma
prateleira ou vitrine qualquer, de embrulhar a mercadoria pedida, de receber e
conferir o dinheiro, devolver o troco ou anotar o que fica fiado, de agradecer
a preferência e de sobra, cativar numa cantada com os olhos.
Meire ia ao estabelecimento menos
que na verdade seria preciso, normalmente. Sua família era de baixa condição
financeira. Órfã de pai desde aos seis anos de idade, morava numa pequena casa,
que contrastava com a grande construção da loja comercial do pai de Afonsinho,
com sua mãe e seu único irmão mais moço. Sempre estava se lembrando que era um
ano mais velha que o príncipe encantado dos seus sonhos.
Já estudara.
Aos quartoze anos, estava cursando a
sexta série no curso noturno. Estudava à noite ainda muito jovem, por que ao
dia tinha que ficar em casa tomando conta dos afazeres domésticos em companhia
do seu irmão de onze anos de idade. Sua mãe trabalhava de cozinheira com uma
longa carga de trabalho em um restaurante.
Sua primeira amizade, no turno
noturno, foi com Luzia, moça magra de idéias grossas, possuidora do terrível
vício nicotinoso.
Meire gostava de Luzia. Sentia-se
bem em sua companhia. Até parecia que Luzia não era o que sempre falavam dela.
Não, não acreditava. O povo tem a mania de inventar as coisas. Tudo bem que
Luzia fumava muito. Fumava demais. Fumava no banheiro da escola. Tudo bem que
suas roupas eram bastante decotadas, bastante curtas. Mas daí chamá-la de
piranha não era justo. Por que não chamavam as filhas de papaizinho com esse
nome? Todos sabem que quase todas as filhas de rico dessa cidade não têm lá
muita moral. Mas tudo fica encoberto atrás com o status dos pais. São quase
todas, vacas de Basã. Só por que Luzia era pobre, a chamavam pela costa com
esse adjetivo desmoralizante.
A amizade das duas era perfeita.
Eram carne e unha. Era sexta-feira, a turma não entrou para assistir aula.
Ficaram empelotados no portão do colégio e pouco a pouco as turminhas foram se
dispersando.
Luzia convidou Meire para irem a um
bar, onde ela, Luzia, já haveria ido algumas vezes.
Meire, para não chegar cedo em casa
e ter que achar uma boa justificativa para a sua não entrada na escola, aceitou
o convite da amiga.
O bar ficava num bairro de classe
média da cidade. O local era lúgubre, as paredes salubres e as mesas
desalinhadas. Ao lado de uma das portas de entrada, um cidadão anônimo tinha
sido dominado pelo peso do álcool e caíra ali mesmo.
Luzia, puxando Meire pela mão,
direcionou-se para uma mesa ocupada por três integrantes que já havia esvaziado
alguns copos enquanto conversavam alto e gracejavam a vontade. Meire foi
apresentada pela amiga e calorosamente bem recebida pelo grupo enquanto Luzia
providenciava assentos para as duas.
A conversa e os gracejos dos rapazes
continuaram no mesmo ritmo e algumas vezes Luzia entrava no bate papo. Meire
olhava de lado, olhava para fora, olhava para as outras pessoas e tentava
ambientar-se. Era a primeira vez que estava num lugar assim. Desagradável? Não
achava, apenas não estava habituada.
Depois de uns quarenta minutos já se
ambientara. Passou a se interessar pelo assunto da patotinha e gracejava
descontraidamente. Porém percebia o rumo bruto que aquela diversão ia tomando.
Sentia medo. Talvez fosse melhor ter arriscado a chegar mais cedo em casa. ,
desculpa séria fácil achar uma. Enfim, resolveu deixar se levar para ver onde
aquilo ia dar.
Luzia, que sentia bem a vontade
desde que chegou, revezava a tragada com o gole. Meire a olhava e Luzia não
percebia a reprovação da colega. Lembrou então do que falavam dela. Piranha.
Será? Não. Reafirmou suas convicções. Daí a pouco viu que a mão de um dos
rapazes roçava nas pernas de Luzia. Meire esperou uma reação de censura por
parte da amiga. Decepcionou-se. Luzia retribuiu com um beijo permitindo que a
mão do rapaz conquistava cada vez mais terreno.
Ao lado de Meire estava outro rapaz,
moreno, apresentava ter vinte e cinco anos de idade, fisionomia de mal-nutrido
e boêmio. Falava-lhe de filmes policiais: Quarenta e Oito Horas, Máquina
Mortífera, Duro de Matar... Ela sorria e ouvia pouco interessada. Apenas ouvia
e concordava. Torcia para que o conteúdo do rapaz fosse pouco nesse assunto.
Era mais que ela esperava.
Já passava das dez da noite, Meire convidou
Luzia para levá-la em casa. Esta recusou.
O rapaz que estava ao seu lado
ofereceu-se e Meire, sem nenhuma outra opção, não teve como recusar.
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