sexta-feira, 9 de abril de 2021

TONY MARQUES: DA ARCÁDIA AO MUNDO CONCISO E INFINITO DE BASHÔ

FONTE: https://greciantiga.org/

Segunda-feira o blog Mutum Cultural postou cinco poemas do poeta Tony Marques na nossa série Pentalogia Poética. Ele é mais um mutuense que se encantou com a arte mãe de todas as artes.

Agora trazemos uma entrevista que o poeta nos concedeu falando de si e do seu ofício com os versos. Ele também fala da sua relação com Mutum. 

Esta é a segunda postagem sobre Tony Marques de uma trilogia que concluiremos com seu estilo poético que tanto tem encantado, o Haikai.


 -ENTREVISTA-

Como surgiu seu interesse pela poesia?

Aos 12 anos de idade eu ingressei em um colégio interno em São Mateus-ES (Seminário Diocesano João XXIII) e lá dei início à minha vida de leitor. Meu gosto era mais pelos romances de aventura tipo: Robinson Crusoé (Daniel Defoe) Ilha do Tesouro (Robert Louis Stevenson) e outros. Com o passar do tempo, eu fui lendo mais e mais, me voltei pra literatura brasileira e comecei escrever pequenos poemas de forma despretensiosa. Até que certa vez participei de uma antologia e tive um poema editado, depois o segundo. Gostei, no entanto, parei de participar de antologias e fiquei escrevendo só pra exercitar mesmo, até que surgiram as redes sociais.

 

E sua predileção pelo Haicai?

O Haikai surgiu em minha vida de uma forma muito interessante: Eu estava fazendo meu TCC do Curso de Letras sobre o Arcadismo Brasileiro (Os Sonetos de Cláudio Manoel da Costa) e meu orientador disse que estava escrevendo uma dissertação de Doutorado sobre os Haikais do Paulo Leminski. Perguntei pra ele: O que é Haikai? Ele falou a respeito desse estilo poético japonês e acabei me interessando. Comecei estudar sobre os grandes mestres japoneses: Bashô, Buson, Issa Kobayashi e outros. Nesse meio tempo, surgiu um concurso de Haikais administrado pelo Grupo de Haicais Caminho das Águas de Santos-SP. O tema dos Haikais para o concurso era Quaresmeira. Fiz um Haikai e tamanha foi minha surpresa, quando um belo dia chegou a notificação que eu havia ficado em segundo lugar com o meu Haikai. Em um concurso nacional, o segundo lugar foi uma grande surpresa. A partir de então, além de continuar fazendo pequenos poemas, continuei fazendo Haikais que é um poema que não pode causar dificuldade de entendimento ao leitor e sucinto como eu gosto de fazer. Eu não consigo escrever de forma abstrata, como os grandes poetas.

 

Qual sua relação com Mutum?

Bom, Mutum é minha terra natal e é uma cidade que gosto muito, tenho vários amigos aí. Eu nasci no Distrito de Roseiral e saí de lá muito novo. Com 8 anos de idade, minha família mudou-se pra Barra de São Francisco-ES e por lá fiquei até os 16 anos, quando viemos morar em Belo Horizonte. Passei vários anos sem ir a Mutum, quando fui, já adulto, namorei e casei com uma mutuense, a Ana Maria. A partir de então, eu passei a ir a Mutum todos os meses. Meus sogros eram idosos e tínhamos que estar presentes. Atualmente, não vamos com muita frequência, mas Mutum está sempre presente em nossas vidas e temos um carinho muito grande pela cidade, pelos parentes de minha esposa e nossos amigos. Eu não tenho parentes em Mutum, meu avô era italiano e criou uma família diminuta, na região do Córrego do Vermelho.

 

 

Você tem obras publicadas?

Não, não tenho. Apesar de já ter tido um livro de Haikais engatilhado para ser publicado. Os entendimentos com a editora já estavam bem adiantados, mas aos poucos fui perdendo o incentivo e acabei por cancelar o projeto. Eu ia editar esse livro mais por incentivo de outras pessoas que por interesse próprio. Pra mim, o fato de publicar ou não é só um detalhe. Prefiro as redes sociais, acho mais democrático e mais acessível, qualquer pessoa pode entrar lá e ler meus poemas, cada curtida, cada comentário, cada compartilhamento pra quem escreve nas redes é muito importante. Isso, no entanto, não quer dizer que não acho legal as pessoas que gostam de publicar seus trabalhos. Fazendo uma autocrítica, eu acho minha poesia muito simples. Eu gosto mesmo, como já disse anteriormente, são dos poemas sucintos e de fácil entendimento como os Haikais, por exemplo.

 

Pretende publicar seus poemas?

 Outro dia, uma amiga de São Paulo, a Elke Lubitz, insistiu pra eu dar início a um projeto de edição, mas por hora eu não pretendo. Acredito que mais para o futuro eu até venha a publicar um livro de Haikais. Eu tenho um material bastante extenso e pra você selecionar 50 ou 60 poemas, eu tenho certa dificuldade. Mas não descarto essa possibilidade. Pode acontecer um dia.

 

Você consegue nas redes sociais um alcance considerável de leitores. Como você acha que as redes sociais podem ajudar a divulgar a arte?

Poema "pescado" no instagram do poeta.

Olha, eu vejo as redes sociais como uma grande lata de lixo, onde 90% de seu conteúdo não tem qualquer importância e os outros 10% algo de valor e que faz a diferença (esses 10%, apesar de representar pouco percentualmente, tem um conteúdo enorme). O que precisamos é saber reciclar e tirar o que as redes têm de melhor para nossa formação, para nosso crescimento. Eu não tenho qualquer preconceito dizer que sou um escritor de redes sociais. Costumo brincar que quando comecei escrever nas redes a cada nova postagem eu tinha em média 50 comentários, 80 curtidas e hoje não tenho nem 20% desses números, portanto, estou crescendo igual rabo de cavalo, pra baixo. O que não deixa de ser um crescimento. Na verdade, o fato de você atingir um público maior é muito interessante, você pode dialogar com seu leitor, respondendo os comentários e acaba criando até mesmo uma relação de amizade. Eu já tive oportunidade de encontrar pessoalmente alguns poucos seguidores e foi muito agradável poder conversar com eles. Nas redes sociais, filtrando bem, você encontra trabalhos muito bons.


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