Entrevista com Jorge Sanglard
José Henrique da Cruz entre amigos em Juiz de fora, a direita, Jorge Sanglard, o nosso entrevistado |
Para ilustrar melhor nossas postagens a respeito do dia do escritor a ser
celebrado amanhã, 25 de julho, buscando na internet sobre “literatura de Mutum”, deparamos
com o TCC de Suzana Azevedo Reis, estudante de Comunicação Social na UFJF, Bar
Brazil: A Contestação Estudantil Em Palavras entre outros poetas, Mutum. Em uma
das páginas ela nos explica quem é Mutum. Trata-se de José Henrique da
Cruz.
José Henrique da Cruz nasceu em 1957 na cidade de
Carangola-MG. Viveu a partir de 1971, em Mutum-MG. Em 1972 mudou para Juiz de
Fora para cursar o ensino médio, onde tomou contato com o professor e poeta
Gilvan Ribeiro. Estudou Comunicação Social e trabalhou em vários jornais. Tornou-se
um dos poetas locais mais reconhecidos. Morreu em 2003 em um acidente
automobilístico ocorrido entre Mutum e Aimorés.
José Henrique da Cruz é um biografável por tudo que
ele representou e ainda representa para quem o conheceu. No entanto, o recorte
da nossa postagem é o seu produzir poético. Quem é esse poeta chamado Mutum? Para
nos responder essa pergunta, o blog Mutum Cultural teve a honra de obter uma
entrevista de um dos seus amigos e companheiros em Juiz de Fora-MG, Jorge Raimundo
Sanglard de Paula.
A ENTREVISTA
MUTUM CULTURAL: Antes de
começarmos a falar do tema principal do nosso bate papo, José Henrique da Cruz,
conhecido com Mutum, gostaríamos que você se apresentasse para o leitor do
nosso blog Mutum Cultural.
JORGE SANGLARD: Sou jornalista e pesquisador nas últimas quatro décadas em Juiz de
Fora. Nasci em Juiz de Fora, morei desde pequeno e até 1971 em Manhuaçu, perto
de Mutum. Em 1972 foi estudar Mineralogia em Ouro Preto e voltei a Juiz de Fora
em 1975. Em 1976 iniciei o curso de Jornalismo na UFJF e encontrei o José
Henrique da Cruz já no primeiro dia de aula e nos tornamos amigos e parceiros
desde então. Atualmente, sou o Gerente do Departamento de Acervo Técnico do
Museu Mariano Procópio. Coordenei a antologia "Poesia em Movimento",
reunindo a produção poética de 42 autores contemporâneos com atuação em Juiz de
Fora nos movimentos "Poesia", "Bar Brazil", "D'
Lira" e "Abre Alas", entre 1975 e 2000, com destaque para a obra
poética de José Henrique da Cruz. O livro conta com apresentações de Gilvan P.
Ribeiro e Affonso Romano de Sant' Anna e foi publicado pela Editora UFJF em
parceria com a Funalfa Edições pela Lei Municipal de Incentivo Murilo Mendes,
em 2002.
Iniciei minha carreira profissional na
década de 1970, ao lado de José Henrique da Cruz, o Mutum, como um dos
fundadores do jornal alternativo "Bar Brazil" e da revista
"D’Lira". Ajudei, juntamente com o José Henrique da Cruz, a manter o
movimento "Poesia".
Como jornalista, desencadeei nas
páginas da Tribuna de Minas a campanha pelo resgate da importância cultural do
Museu Mariano Procópio, o primeiro museu de Minas, que tem um dos mais
significativos acervos do período colonial e imperial do país com mais de 55
mil peças.
Como conselheiro do setor Literatura,
por dois períodos, ajudei o Conselho Municipal de Cultura a formular o Plano
Municipal de Cultura de Juiz de Fora aprovado na Câmara Municipal por
unanimidade.
Sou colaborador especial do jornal
quinzenal “As Artes Entre As Letras”, no Porto, em Portugal. Fui assessor de
imprensa na Ordem dos Advogados do Brasil Subseção Juiz de Fora. Colaborei,
como pesquisador, com o Instituto Cultural Cravo Albin, no Dicionário Cravo
Albin da Música Popular Brasileira / Dicionário Houaiss Ilustrado da Música
Popular Brasileira (onde tive a honra de ser verbete como crítico de música),
ajudando a redigir os perfis de compositores e músicos de Juiz de Fora e da
Zona da Mata mineira, reconhecendo e valorizando nossos talentos musicais.
Coordenei a realização da "Primeira Mostra de Arte
Universitária Mineira", na UFJF, em 1977. Ajudei a articular o Som
Aberto, realizado pelo DCE, na UFJF nas manhãs de sábado, a partir de 1976.
A partir de meados dos anos 1970 e até 1981, produzi alguns
dos principais shows do Circuito Universitário, em Juiz de Fora (MG),
realizados por Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Elomar, Dércio Marques, Gilberto Gil,
João do Vale, Alceu Valença e Aniceto do Império. Produziu também apresentações
de Egberto Gismonti, Arthur Moreira Lima e Clara Sverner.
Atuei, entre 1981 e 1997, como repórter de cultura e
diagramador do "Caderno Dois" do jornal "Tribuna de Minas"
e também trabalhei na Tribuna da Tarde.
Em dezembro de 1998, co-produzi, no Theatro Central de Juiz
de Fora, a pré-estréia do show "As cidades", de Chico Buarque.
Como programador visual, ajudei a elaborar o projeto
gráfico da "Tribuna da Tarde", criei a capa e o encarte dos discos
"Alpendre", "Nuances" e "Intuitiva melodia", do
compositor, violonista e guitarrista mineiro Chico Curzio, e a arte do encarte
do disco "Traços na parede", também de Chico Curzio. Elaborei o
projeto gráfico do CD "Sertão das Miragens", de Luizinho Lopes e
Marcela Lobo, e assinei a apresentação dos CDs "Caminhos Gerais"
(Ronaldo Cadeu & Daniel Morais), "Mamão com açúcar" (Armando
Aguiar, o Mamão), e "Batuque de negro" (Geraldo Santana).
Junto com o artista gráfico Jorge Arbach e com o crítico de
literatura Gilvan P. Ribeiro mantive, semanalmente, uma página de literatura no
"Caderno Dois" da "Tribuna de Minas" e na “Tribuna da
Tarde".
Ao lado do jornalista e crítico de arte Walter Sebastião,
ajudei a articular o movimento e a campanha "Mascarenhas, meu amor"
que, no início dos anos 1980, mobilizou artistas e a comunidade para a
transformação da pioneira Fábrica Bernardo Mascarenhas no Centro Cultural
Bernardo Mascarenhas em Juiz de Fora.
A partir de 1993, atuei na pesquisa,
na divulgação e na luta pelo tombamento e restauração de dois ícones da arte
moderna a céu aberto em Juiz de Fora: o painel em azulejos "As Quatro
Estações", criado em 1956, por Candido Portinari, para a fachada do
Edifício Clube Juiz de Fora, e o "Marco do Centenário de Juiz de
Fora", primeiro monumento abstrato e concretista em praça pública no
Brasil, projetado em 1949 por Arthur Arcuri, engenheiro-arquiteto modernista, e
trazendo ainda o primeiro mosaico em vidrotil na concepção modernista criado em
praça pública no país, em 1950, por Di Cavalcanti, e inaugurado em 1951.
Tive atuação decisiva na redescoberta
e no resgate da cidadania cultural do compositor, cantor e violonista De
Moraes, autor da letra de "Minas Gerais", o "hino" popular
dos mineiros, canção eleita pelo voto popular como a música do século XX em
Minas Gerais, pela TV Globo Minas. Realizei a pesquisa e ajudei a articular
a edição do CD "De Moraes", lançado pela Allca Music, com produção de
Cléber Camargo, recuperando, a partir de originais em 78 rpm, 14 canções de um
dos principais compositores mineiros da era do rádio, nos anos 1940 e 1950.
Fui autor do projeto e do texto do
livro “JF Anos 80”, que reuniu fotos históricas de Juiz de Fora na década
de 1980 de autoria de Humberto Nicoline, também publicado com apoio da UFJF
pela Funalfa Edições, aprovado pela Lei Municipal de Incentivo Murilo
Mendes.
Integrei o Conselho Diretor do Cine-Theatro Central e,
entre janeiro de
1997 e junho de 2003, exerci a função de Assessor de Relações
Públicas da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), em Juiz de Fora,
onde editei a "Revista de Cultura AZ" e ajudei a editar o jornal
“Orpheu”. Colaborei com o jornal musical "International Magazine" e
com o "Jornal do Rock". Colaborei com os jornais
"Movimento" e "Em Tempo", nas sucursais de Minas. Fui
colaborador especial do caderno semanal “das Artes das Letras” do jornal O
Primeiro de Janeiro, no Porto, em Portugal. Colaborei com o Portal Literário
Cronópios, em São Paulo, e com o jornal literário "Rascunho", de
Curitiba, além dos jornais mineiros "Hoje em Dia" e "Estado de
Minas". Fui primeiro-secretário do Sindicato dos Jornalistas Profissionais
de Juiz de Fora e seu representante junto à Federação Nacional dos Jornalistas
(Fenaj).
Antologia poética organizada por Jorge Sanglard com participação de José Henrique da Cruz |
MUTUM CULTURAL: Como você
define José Henrique da Cruz?
JORGE SANGLARD: José
Henrique da Cruz encarnou a poesia como
poucos escritores. Viveu a poesia no dia a dia e ajudou a criar e a consolidar um dos mais importantes movimentos poéticos brasileiros a partir de meados dos anos 1970, com o folheto Poesia, o jornal Bar Brazil, e a revista D'Lira. Além de ser um grande poeta tinha um faro para editar poesia e ajudou a revelar muitos nomes que se consolidaram no universo poético e literário mineiro e brasileiro. Encontrei Mutum no primeiro dia de aula no curso de Jornalismo na UFJF e, desde esse dia, nos tornamos amigos e parceiros.
poucos escritores. Viveu a poesia no dia a dia e ajudou a criar e a consolidar um dos mais importantes movimentos poéticos brasileiros a partir de meados dos anos 1970, com o folheto Poesia, o jornal Bar Brazil, e a revista D'Lira. Além de ser um grande poeta tinha um faro para editar poesia e ajudou a revelar muitos nomes que se consolidaram no universo poético e literário mineiro e brasileiro. Encontrei Mutum no primeiro dia de aula no curso de Jornalismo na UFJF e, desde esse dia, nos tornamos amigos e parceiros.
MUTUM CULTURAL: Como foi a criação do
folheto Poesia na UFJF?
JORGE SANGLARD: A
sensibilidade poética foi o fio condutor que reuniu, inicialmente, Gilvan P.
Ribeiro e o saudoso José Henrique da Cruz (1957 – 2003) na articulação do
folheto Poesia, em 1976, já na Universidade Federal de Juiz de Fora, após os
sete primeiros exemplares terem sido editados com o apoio do Colégio Magister,
em 1975. A partir daí, cada vez mais, foi sendo forjado o coletivo
que deu sustentação ao
folheto Poesia, ao jornal Bar Brazil, ao folheto Abre Alas e à revista D’Lira. Ao conhecer Mutum, no primeiro dia de aula de Jornalismo na UFJF, conversamos sobre o que cada um de nós fazia e ele citou os folhetos Poesia editados no Colégio Magister por inspiração do professor de Literatura Gilvan P. Ribeiro. No segundo dia de aula, ele trouxe os folhetos e começamos a buscar a parceria de alguns novos poetas na UFJF. Na nossa sala mesmo encontramos a Raquel Scarlatelli. Assim, Minas Gerais viu florescer, a partir de 1975, em Juiz de Fora, uma geração de novos poetas e escritores que, hoje, são destaque no cenário contemporâneo da literatura brasileira: Luiz Ruffato, Iacyr Anderson Freitas, Edimilson de Almeida Pereira, Fernando Fábio Fiorese Furtado, José Santos, Sérgio Klein, Fabrício Marques, Eustáquio Gorgone, Júlio Polidoro, Knorr, Walter Sebastião, entre outros. Em 1975, trabalhando como professor de Português no Colégio Magister, Gilvan P. Ribeiro conseguiu articular o apoio da direção para fomentar um movimento de poesia, possível graças ao entusiasmo dos alunos. Em parceria com o Diretório Central dos Estudantes da UFJF, a partir de 1976, começaram a sair os folhetos com o título Poesia. Mimeografado no Colégio com papel cedido pelo DCE, o folheto funcionou como um ímã, ampliando-se bastante a partir da ideia inicial, dado o número de interessados que se manifesta na época. Distribuídos na rua, passaram a atrair mais gente. O grupo
original, logo na Universidade Federal de Juiz de
Fora, onde Gilvan P. Ribeiro já estava como professor de Literatura, se
reorganizaria, adquirindo uma nova feição e ampliando o número de poetas. O
folheto passaria a ser distribuído — sempre gratuitamente — nos espetáculos
político-musicais chamados Som Aberto, organizados pelo Diretório Central dos
Estudantes (DCE) e realizados na Universidade e sua distribuição ganhava também
as ruas centrais de Juiz de Fora, sendo levado à população todas as semanas.
folheto Poesia, ao jornal Bar Brazil, ao folheto Abre Alas e à revista D’Lira. Ao conhecer Mutum, no primeiro dia de aula de Jornalismo na UFJF, conversamos sobre o que cada um de nós fazia e ele citou os folhetos Poesia editados no Colégio Magister por inspiração do professor de Literatura Gilvan P. Ribeiro. No segundo dia de aula, ele trouxe os folhetos e começamos a buscar a parceria de alguns novos poetas na UFJF. Na nossa sala mesmo encontramos a Raquel Scarlatelli. Assim, Minas Gerais viu florescer, a partir de 1975, em Juiz de Fora, uma geração de novos poetas e escritores que, hoje, são destaque no cenário contemporâneo da literatura brasileira: Luiz Ruffato, Iacyr Anderson Freitas, Edimilson de Almeida Pereira, Fernando Fábio Fiorese Furtado, José Santos, Sérgio Klein, Fabrício Marques, Eustáquio Gorgone, Júlio Polidoro, Knorr, Walter Sebastião, entre outros. Em 1975, trabalhando como professor de Português no Colégio Magister, Gilvan P. Ribeiro conseguiu articular o apoio da direção para fomentar um movimento de poesia, possível graças ao entusiasmo dos alunos. Em parceria com o Diretório Central dos Estudantes da UFJF, a partir de 1976, começaram a sair os folhetos com o título Poesia. Mimeografado no Colégio com papel cedido pelo DCE, o folheto funcionou como um ímã, ampliando-se bastante a partir da ideia inicial, dado o número de interessados que se manifesta na época. Distribuídos na rua, passaram a atrair mais gente. O grupo
Cartaz do evento musical Som Aberto |
MUTUM CULTURAL: Qual
a importância do Professor Gilvan Procópio Ribeiro para provocar em vocês,
estudantes, o interesse pela criação literária?
JORGE SANGLARD: A
importância do Gilvan foi total. Ele, desde os tempos do Colégio Magister,
incentivou os alunos, que iam fazer vestibular, à leitura de poesia e também ao
fazer poético. Despertou o interesse para a leitura da poesia e motivou a todos
em escrever poesia. Articulou a reflexão à ação e isso foi fundamental para
ajudar a fazer do movimento um núcleo expressivo de novos poetas.
MUTUM CULTURAL: Em 2015,
a estudante de Comunicação Social, Jornalismo, Suzana Azevedo Reis intitula
seu TCC Bar Brazil: A Contestação Estudantil Em Palavras, onde ela tenta
demonstrar que o Jornal mencionado tem com intenção contestar a ditadura
militar. O que de fato foi o jornal Bar Brazil? Juntamente com D’lira e
Abre-Alas, tratava-se de continuidade do movimento literário iniciado com o
folheto Poesia?
JORGE SANGLARD: Os
poetas reunidos ora na Poesia, ora no Bar Brazil, passando pelo Abre Alas, ou
ainda em torno da D’Lira, deflagraram uma pulsação irresistível nas manhãs de
sábado, seja no Som Aberto, na Universidade Federal de Juiz de Fora, seja nas
ruas centrais de Juiz de Fora. A interação entre poetas e leitores impregnou o
sentimento coletivo de cumplicidade, que permeou essa poesia em movimento
constante. Exemplo vivo de cultura como via de duas mãos, como troca de
influências e de reciprocidades. Agora, o jornal Bar Brazil, além de publicar
poesia, abriu espaço para ensaios, entrevistas, ilustrações, fotografias.
Representou um passo paralelo ao folheto Poesia e ampliou o leque de parcerias.
Foi um veículo de jornalismo cultural antenado com o seu tempo, portanto, foi
um jornal crítico à ditadura, mas voltado para dar voz cultural a quem não
tinha voz.
MUTUM CULTURAL: Qual a relação
desse movimento nos anos 70 com a Geração Mimeógrafo?
JORGE SANGLARD: A
relação do movimento com a Geração Mimeógrafo foi intensa. Nós tínhamos contato
com todo mundo que editava poesia no país e trocávamos as publicações via
Correios. A intenção de todos que usavam o mimeógrafo como matriz para as
edições era difundir a boa poesia e aí, Juiz de Fora projetou grandes poetas
para Minas e para todo o país. E o Mutum foi um desses grandes poetas revelados
em Juiz de Fora.
MUTUM CULTURAL: Qual
a atuação de José Henrique da Cruz nessa efervescência? Ele, assim como os
demais, tinha consciência da importância história de tal movimento em Juiz de
Fora?
JORGE SANGLARD: José
Henrique da Cruz foi essencial para que tudo isso acontecesse. Ele era o poeta
que dava sustentação às publicações. Ele tinha um bom olho para vislumbrar um
poeta promissor e, com isso, abriu alas para muita gente boa divulgar a sua
poesia e mostrar o seu talento poético. A consciência da importância histórica
do movimento foi sendo forjada ao longo do tempo. O que o Mutum e eu sabíamos é
que só seria publicada poesia de qualidade. E isso foi essencial pra filtrar o
que era bom e dar peso literário ao movimento.
MUTUM CULTURAL: Como você acompanhou a
produção literária de José Henrique da Cruz?
JORGE SANGLARD: Acompanhei
a produção literária do José Henrique da Cruz desde o segundo dia de aula no
curso de Jornalismo na UFJF, quando ele levou os primeiros sete folhetos da
Poesia editados no Magister. Daí em diante nos tornamos grandes amigos e
encaramos a parceria pra reativar o folheto Poesia e a criação do jornal Bar
Brazil e da revista D'Lira. E, mesmo depois de sair da faculdade, acompanhei a
produção poética do Mutum.
MUTUM CULTURAL: Como ele reagia ao ser
chamado de Mutum?
JORGE SANGLARD: Com
naturalidade. Para nós, ele sempre foi o Mutum. Agora, assinava todos os poemas
como José Henrique da Cruz.
MUTUM CULTURAL: O que você destaca em
suas obras Pequenos Poemas, de 1979, e O Alfabeto do Poeta, de 1982?
JORGE SANGLARD: É
importante destacar o conjunto da obra poética
do José Henrique da Cruz. O
Mutum era fera nos pequenos poemas, na percepção do cotidiano em sua escrita.
Desde os primeiros poemas na Poesia até as suas últimas criações poéticas, sua
inventividade era imensa. Toda a poesia do José Henrique da Cruz tem densidade.
Obras da Editora Funalfa nos anos 70 e 80 |
MUTUM CULTURAL: Como vocês se
relacionaram durante a fase em que ele esteve em São Paulo?
JORGE SANGLARD: Nós
sempre estávamos em contato. Quando editei a antologia "Poesia em
Movimento", os poemas do José Henrique da Cruz foram os primeiros a serem
escolhidos. O livro é uma homenagem a toda a trajetória do Mutum como poeta. E
ele esteve presente no lançamento da antologia em Juiz de Fora e em São Paulo.
MUTUM CULTURAL: Você acompanhou o
processo de edição de Manuscritos Azuis? E da reedição de O Alfabeto do Poeta?
JORGE SANGLARD: Sim,
ajudei a reunir os poemas do José Henrique da Cruz. Todo mundo que participou
do movimento deu a sua contribuição.
MUTUM CULTURAL: Como a convivência com
José Henrique da Cruz e as atividades culturais dos anos 70 influenciou na sua
carreira de produtor cultural e jornalista?
JORGE SANGLARD: Influenciou
de todas as formas. A força da poesia do José Henrique da Cruz inspirava a
todos. E eu, como parceiro mais próximo na escolha dos poemas para editar o
folheto Poesia, vivenciei toda a criatividade do Mutum bem de perto.
Articulamos juntos o Bar Brazil, depois a D'Lira. sempre trocando
informações e vislumbrando editar o material a partir do critério de qualidade.
Depois, trabalhamos juntos em redação de jornal.
MUTUM CULTURAL: O que mais podemos
falar de José Henrique da Cruz para que ele continue vivo em nossa memória?
JORGE SANGLARD: É
importante manter viva a poesia do José Henrique da Cruz. E é essencial manter
viva a memória da grande pessoa que foi o Mutum. Foi um cara generoso,
talentoso e que vivia a poesia. Juiz de Fora deve muito ao José Henrique da
Cruz por ter ajudado a forjar um dos mais importantes movimentos poéticos a
partir de meados dos anos 1970. A cidade passou a respirar poesia a
partir do momento em que o Mutum resolveu espalhar poesia pelo Campus da UFJF e
pelas ruas centrais de Juiz de Fora.
***
“O suor do seu corpo dormiu
no meu corpo/como se fosse o meu suor/Este peso, lembrante de tempo e
trabalho/amor/teceu quedas e delírios em mim/com um sabor de frutas e riquezas”
José Henrique da Cruz
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