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ENTREVISTA COM JOSÉ ARAUJO DE
SOUZA
Completando a trilogia de
postagens sobre o livro Operação Mutum de José Araujo de Souza, trazemos uma
entrevista com o autor, alguém que gosta muito da nossa amada terrinha.
José Araujo de Souza nasceu em 29
de Outubro de 1945, Assaraí, pertencente hoje ao município de Pocrane, sendo
que quando nasceu, tanto Assaraí como Pocrane eram distritos de Ipanema.
Aos dois meses de idade, seus
pais Simplício Albano de Souza e Geracy Araujo de Souza mudaram-se de Assaraí
para Aimorés, passando por Mutum. Segundo relatos que contaram para o nosso
entrevistado, ele ficou em Mutum, por ter adoecido, aos cuidados dos seus avós,
Olívio Araujo e Dona Cotinha, até que tivesse condições de voltar para a companhia
dos seus pais. O que nunca mais aconteceu. Em Mutum ele seguiu morando até
concluir o Segundo Grau. Indo para Belo Horizonte em 1966. Em Mutum ficou
conhecido pelo apelido de Buté.
Em 2007, José Araujo de Souza
sentiu-se honrado em ter Travessia lançado e exposto para vendas ao público no
Stand da Oficina de Livros, durante a realização da XIII Bienal do Livro, no
Rio de Janeiro.
Sua literatura é produzida
cotidianamente, não tem um escritor de referência. Suas obras são solos. Já até
produziu em outros campos da arte, mas apenas para fins didáticos quando
lecionava. Mutum está presente em outros textos além de Operação Mutum como no
Poema dedicado à terra do seu Coração
MUTUM
Há um pedaço de dor
encravado entre as montanhas
desenhadas contra o céu
(ainda será azul?)
e um rio nascendo dos olhos
formando na queda a cachoeira.
(ainda será fria e funda?).
Há um começo vermelho de noite
correndo ao encontro do encanto da lua.
(ainda será dos namorados a velha rua?)
Há no peito embrutecido uma suave saudade
e um coração ferido comandando o sangue
que flui para o corpo.
Lá, por certo, o tempo se incumbiu
de sucumbir tudo.
E ninguém mais se lembra de olhar
a montanha encantada e pedir um querer
de madrugada.
Nem flutua no rio a escura canoa
e nenhum menino desafia mais o remanso
ao entardecer.
Por certo, só existe a saudade que sinto de Mutum.
ENTREVISTA
(Entremeada com parágrafos de
SOLIDOR, de autoria do entrevistado)
Qual a sua relação sentimental com Mutum? Você tem parentes aqui?
Eu sempre digo que sou mutuense.
Desde que me entendo por gente, sou mutuense. Eu só vivi fora de Mutum, antes
de vir para Belo Horizonte, por dois meses após ter nascido em Assaraí. Fui
registrado lá. Sou, portanto, mutuense nascido em Assaraí. Digamos que, na
dúvida entre o local onde nasci pertencer geograficamente a Ipanema ou a
Pocrane, escolhi ser de Mutum, onde sempre vivi.Tenho em Mutum meu querido irmão
Olívio de Souza Araujo, Olivinho. O mais velho dos meus irmãos. Também tenho
primos. A família Araujo é muito grande.
“Solidor é a solidão nascida de
uma dor de não se ter mais. Surgida como por encanto, no final de um sonho, no
começo de uma noite de chuva ou, até mesmo, na hora da morte. É a falta
permanente ou passageira deixando marcas e maracás em cada batida surda do
coração. É o vermelho do sangue correndo pelas veias dilaceradas, num contínuo
fluir e refluir, pelo corpo cansado.”
Qual a sua formação e atuação
profissional?
Minha formação profissional foi
toda direcionada para o Magistério. Fiz o Curso Normal em Mutum, no Colégio
Normal Dionísio Costa (grafado com i). Fui o primeiro homem a fazer o Curso
Normal em Mutum. Eu era o único homem em uma sala de mulheres maravilhosas, a
quem devo a conclusão dessa etapa. Sem a ajuda que tive delas, eu não teria
conseguido concluir o curso. Fiz o Curso Superior de História na UFMG. Depois, Pós Graduação em Metodologia do
Ensino Superior. E, finalmente, fiz Mestrado em Educação. Lecionei em todos os
três níveis de ensino. Primeiro e Segundo Graus, Superior e Pós.
“Solidor é fruto da paixão,
desespero, vingança e ódio. É resultado de um amor. Um poema inacabado por
falta de espaço no papel. Uma canção cantada baixinho, no ouvido direito da
amada. É um lamento, um suspiro ou um nome soprado baixinho a se perder no
vento. No nada.”
Como e quando foi seu interesse
pela literatura? Comecei a ler muito cedo. Revistas em quadrinhos. Minha mãe era
professora, então não faltavam material para leitura. De Monteiro Lobato a
Jorge Amado. Na casa dos meus avós morava um médico, Dr. Bião, que me
"mandava" sempre ler algumas revistas técnicas variadas, que assinava
especialmente uma: Seleções de Raeder's Digest. Tinha de tudo. Contos, poesia,
novelas, piadas, artigos científicos, enfim, uma verdadeira enciclopédia. Como
era poliglota, o Dr. Bião insistia para que eu lesse algumas de suas revistas
em outras línguas. O que eu não conseguia e me frustrava. Não sei, exatamente,
quando comecei a escrever mas sei que sempre gostei.
“É solidor a saudade de não se
estar mais na cidade natal. Ou quando se perde um pedaço da vida na morte de
alguém. Quando, de um lugar qualquer distante no tempo, repentinamente,
ressurge o cheirinho gostoso de comida caseira, feita pelas mãos da mãe que já
não temos mais.”
Quando surgiu a ideia de escrever
Operação Mutum?A ideia me veio ao ler notícia de
que os Estados Unidos assinaram um acordo com a Espanha, assumindo o
compromisso de descontaminar a área atingida por bombas deixadas cair por um
avião militar, em um acidente aéreo ocorrido em 1966, em Palomares, no sul da
Espanha. Cinquenta anos depois, a população ainda continuava sofrendo os riscos
de radiação. Imaginei, então, como seria se acontecesse a mesma situação em uma
região montanhosa como a de Mutum. E fui criando a história na minha cabeça. Os
personagens foram nascendo e o enredo sendo desenvolvido. Usei imagens da minha
infância. Quando criança, muitas vezes fiquei olhando para o céu, altas horas
da noite, acompanhando o piscar de luzes dos aviões que passavam sobre Mutum,
vindo de não sei onde e indo para algum lugar desconhecido. Faziam parte dos
mistérios da minha infância. Assim, apenas criei situações que imaginei para
dar forma a uma história fantasiosa que já tinha começo meio e fim na minha
cabeça.
“Solidor é chocolate escaldado
em fogão de lenha. Bala de coco redondinha coberta de açúcar. Bola de meia
rolando na poeira. Enchente de rio manso. Gabiroba do mato. Manga espada com
terebentina na casca. Goiaba vermelha. É tristeza.”
Você tem outras publicações além
de Operação Mutum?Escrevi e publiquei outros
livros. TRAVESSIA; CONSENOR; CANÇÃO PARA JULIANA; PELOS CAMINHOS DO TEU CORPO;
DELES E DELAS; DELES; DELAS; MALDÍVIA; CONTOS ERÓTICOS DE QUALIDADE; OPERAÇÃO
MUTUM; O LEÃO DE JUDÁ. São contos e poemas, contos eróticos e romances de
ficção.
“Solidor é boneca de pano,
rasgada, deixada num canto de um quarto. É calor de colo. Carinho de mão
tocando de leve nos cabelos. Caminho de roça, cheio de mato. Preguiça gostosa
de depois do almoço. Brinquedo de infância. É brincar de pique. É balanço. É
cobra cega. Casamento de jeca. Pipoca. Balão aceso no céu. Lua cheia. Carnaval
de rua. Banco de escola primária. É trança de menina. É Igreja na praça.
Refresco de canudinho. Caldo de cana tirado na hora. É barquinho de papel
descendo na enxurrada.”
Como é a sua rotina de produção
literária?
Tenho um computador instalado no
meu quarto. Assim, gosto de escrever quando a vontade me pega, sem um horário
preestabelecido. Quase sempre, tenho mais de um trabalho começado, inacabado e
arquivado à espera de que eu o termine. Não escrevo com um tempo determinado
para concluir o que comecei. O certo é que posso acordar no meio da noite e dar
sequência a alguma coisa que já comecei a escrever e deixei num arquivo
qualquer. Ou posso, simplesmente, começar alguma coisa nova.
“Solidor é palavra inventada,
que nunca esteve em dicionário. Mas que existe viva dentro de cada um de nós. É
a saudade danada de uma coisa que incomoda. Mas que não queremos perder nunca,
nunca, nunca..."
Fale sobre Travessias e
quais são os projetos literários para o futuro?
O Projeto Travessia tem como
objetivo distribuir gratuitamente, através das redes sociais, 10.000 (dez mil)
exemplares em PDF, dos livros digitais de minha autoria, com versões em
Português, Inglês e Espanhol. Esta é uma forma que encontrei de facilitar a
vida das pessoas que se encontram em casa, impossibilitadas de manterem
convívio social até com parentes mais próximos, por causa do risco de contágio
com o COVID-19, essa praga que está dizimando grande parte da população
mundial. Procuro deixar com essas pessoas os meus livros, para que possam
ocupar um pouco mais do tempo ocioso que terão. Ler é uma boa forma de passar o
tempo. Enquanto eu as ajudo, elas, em troca, me fazem mais conhecido.
Estou, no momento, concluindo
mais dois livros. Ainda sem títulos. Um de poemas. O outro, de faroeste, uma
história envolvendo bandidos e mocinhos no Oeste americano, mais precisamente
no Estado de Nevada. Lá pelos idos de mil novecentos e pouco. Já estão bem
avançados, mas sem prazo estabelecido para terminar. Vou caminhando, na
velocidade que o tempo das histórias exigir.
***
O blog Mutum Cultural agradece ao escritor José Araujo de Souza por nos conceder tão enriquecedora entrevista.
DOIS LIVROS DO AUTOR NA AMAZON
FAZEM PARTE DA TRILOGIA SOBRE
OPERAÇÃO MUTUM
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