sábado, 13 de abril de 2013

POEMAS PARA CELEBRAR A VOLTA DA ENERGIA MAIS CARA DO BRASIL


A VASTIDÃO DO MEU MUNDO
Meu mundo é muito vasto
Tão vasto quanto o mundo de Carlos
Tão vasto quanto cada palavra
Quanto cada campo lavrado

Meu mundo é muito pasto
Com teia alimentar estabelecida
Aprisionando minha vida
A um nível trófico predeterminado

Meu mundo é tão vasto
Que cabe nos canais da minha TV a cabo
Que cabe na pequenez geométrica do portarretrato
Que cabe nesse pseudopoema

Mas é o mundo que eu tenho
É desse mundo que eu venho
De nada nada me abstenho
Mas é o mundo que eu tenho





MEU POEMA, MEU MUNDO

Escrevo um poema besta
Não será lido por ninguém
Não fará parte de nenhuma antologia
Não causará nenhuma reação alérgica

Escrevo um poema debiloide
Sem sonoridade, sem decibéis
Sem anjos, sem demônios
Sem ditadura, sem democracia

Um poema para ficar perdido no PC
Sem reclamação no SPC
Sem retalhação em qualquer DP
Sem deixar ninguém a mercê de comprimidos

Um poema igual ao meu mundo
Imundo, imaturo e imaculado
Sem escoriações no rosto ou no coração
Abaixo da última camada da escória social



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MUNDO REAL


Eu prefiro um mundo real
Sem fantasias, sem fanta laranja
Sem sabores artificiais
Sem saberes superficiais

Eu me refiro ao mundo real
Sem reinado, sem releituras
A censura presente na opinião pública
A república ausente de qualquer política pública

Eu me firo num mundo real
De ice e fire, de aço e fogo
De acidentes incidentais
No cotidiano das veias do país

Eu me atiro num mundo real
Cada vez mais, cada vez mal
Sou maltrapilho, sou maltratado
Sou filho dos tratos não cumpridos
Dos tribunais dos desculpados
Dos jornais dos descomprometidos
Dos quais sequer faço parte do partido



MUNDO CÍCLICO

Anoitece em qualquer mundo
Mesmo os iluminados por energia elétrica
Anoitece em qualquer corpo
Mesmo os mutilados no massacre da serra elétrica

Apodrece-se em qualquer mundo
Mesmo nos hitleramente desinfetados
Apodrece-se em qualquer corpo
Mesmo nos burguesamente engaiolados

Acontece de tudo em qualquer mundo
Mesmo em mundos que o jornal não cobre
Acontece de tudo em qualquer corpo
Mesmo no corpo que a plástica encobre

Amanhece em qualquer mundo
Mesmo onde o cogumelo atômico ilumina
Amanhece em qualquer corpo
Mesmo no que foi vendido à noite na esquina

Anoitece
Apodrece
Acontece
E amanhece
Em qualquer mundo
Em qualquer corpo



ENTRE AS ASAS E O PEITO

O mundo que fica compreendido
Entre minha casa e a padaria
Entre minhas asas e a periferia
Tem podres, tem pobres, tem utopia

O mundo que fica se corrompendo
No pronto-socorro e no morro
Onde eu estou morrendo
A cada dose, a cada trago, a cada porre

O mundo que fica se comercializando
No shopping, na câmara e no templo
Cada coisa no seu tempo
cada coisa no seu espaço

eu sem tempo e eu sem espaço
eu que nada faço além do fácil
eu que nada quebro além do frágil
nada rompo além do rombo na minha conta bancária

o mundo que fica comprimido
entre o pão e o comprimido
entre as asas e o peito ferido
entre o feriado e os dias de domingo
acaba comigo


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SUFOCO DE CADA DIA

Eu queria ser um superhéroi
Para salvar o mundo do mal
Para saltar do alto do Everest
Para sanar todas as pestes

Eu queria ser um santo
Para converter os infiéis
Para distribuir todos os meus reais
Para rezar durante quarenta dias

Eu queria ser um Gandhi
Para engrandecer minha fome
Para emagrecer minha dor
Para desmoralizar o opressor

Eu queria ser um Dalai Lama
Para reacender a chama da esperança
Para sorrir diante de tanta lambança
Para desmontar adultos com sorriso de criança

Mas eu sou eu e o mundinho ao meu redor
Nem melhor, nem pior
Um mundo que eu sei de cor
E vivo e faço o que posso
Para sair do sufoco de cada dia
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DESDE O PRIMEIRO MILÉSIMO DE SEGUNDO

Para caminhar de um lado para outro
Para sofrer metamorfose e manter o corpo
Para tomar a última dose e pegar outro copo
Para falar metáfora que mente e mata

Para cantar uma canção que nunca esteve na parada
Para parar o mundo e romper com a gravidade
Para chegar ao clímax e evitar a gravidez
Para dar o primeiro passo e sem vencer a timidez

Para tocar as estrelas com os pés no chão
Para entocar as raposas sem urgir como leão
Para tacar fogo no mundo e pousar de bombeiro
Para jogar bombas na Casa Branca e casar com a filha do Bush

Tudo isso para provar para o mundo
Que no fundo de tudo há um cheque sem fundo
Há um furo, há um furto, há uma farsa
Desde o primeiro milésimo de segundo
Esse é o mundo

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O TRÊS LADOS DA MOEDA

Coragem para lutar
Matar um leão por dia
E matar muitos dias pro leão do imposto de renda
Para render para o patrão na mais-valia

Coração para bater
Sístole e diástole freneticamente
Máquina que produz músculo e esperma
Para viver experimentando o velho rotulado de novo

Corrupção para vencer
A próxima eleição e ainda enriquecer
Traçar os planos e oferecer
Pão e circo para manter o poder

São os três lados de uma mesma moeda
Ascensão, podridão e queda
E a tarja preta que não cura minha loucura
E a tarja preta que nada veda

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