sexta-feira, 22 de março de 2013

OLHAR QUE SILENCIA



Perca-se;
Salve-se;
Queixe-se;
Deixe-se;
Permita-se.

Possa se puder;
Queira se der;
Faça sempre o possível;
Desista de vez enquando;
E tente novamente.

Pare;
Olhe;
Escute;
Fale;
Sinta.

Sinta o paladar amargo das nuvens cinzas;
O doce azedo da vida só;
O agridoce das tardes vazias;
As noites frias nos dias de chuva;
As manhãs quentes dos compromissos adiados.

O futuro em conta gotas;
O presente sem passado;
Um momento único em uma história tola;
A vida toda em um segundo;
A iminência do imediato.

Olhe para si mesmo;
Veja o mundo que construiu;
As vidas que destruiu;
Os sujeitos que ajudou;
A ajuda que faltou.

Olhe para dentro de si mesmo;
Cale-se;
Critique-se;
Deixe-se;
Salve o silêncio surdo.

Permita a visão cega;
Visão que enxerga a alma pura;
Negue-se ao não pensar;
Pense em si mesmo ao negar-se;
Ouça o seu coração pulsar.

Hoje quis ver o mundo;
Enxergá-lo em um recibo um quatro quatro;
Em silêncio, só eu;
Quis escutar minha própria voz muda;
Quis auscultar a alma das pessoas.

Quis ver o brilho no olhar do algoz;
O açoite sem dó nem piedade;
A mordida feroz do cão faminto;
A riqueza de uns poucos;
A miséria de outros tantos.

Hoje quis ver a vida leve;
Ver a mãe feliz uma só vez;
A mesa farta;
O filho radiante;
Hoje quis ver o outro.

Hoje quis ouvir suas angústias;
Sentir as suas dores;
Ver os seus medos;
Pisar o seu chão;
Tocar o seu céu com minhas próprias mãos.

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