NOTA DO BLOG: Transcrevo aqui o excelente artigo de um amigo de Conceição de Ipanema-MG. Veja o quanto é interessante essa reflexão envolvendo o "passamento", ou seja, a morte, nua e crua, de dois baluarte da cultura.
Um, da cultura nacional, José Wilker, que nos encantou no cinema e na telenovela. Assistir com prazer, talvez seu último programa na TV, Canal Brasil, entrevistando Diogo Vilela.
Outro, Gabriel García Marquez, baluarte da Literatura Latino-Americana. Cem Anos de Solidão é um livro incrível. Incrivelmente é todo seu realismo fantástico. Inspirou-me a criar a SANTA LUZIA DO NORTE, meu ambiente virtual onde escrevo alguns contos, que somente eu conheço até agora.
O artigo vem acalhar em um Sábado Santo, em que acabo de chegar do cemitério onde rezamos o Terço, lembrando de Jesus, agora morto, enquanto aguardamos sua Ressurreição.
Eís o artigo de José Aristides:
SÁBADO, 19 DE ABRIL DE 2014
Questões biográficas: A morte nossa
SE EU MORRESSE HOJE?
Acompanhando recentemente a comoção midiática em torno da morte do ator José Wilker e do escritor Gabriel García Marquez, fiquei pensando, quando qualquer um de nós, simples cidadãos, morrermos, que legado nós deixaremos? Então, passei a refletir sobre mim mesmo. O que fiz até hoje? Qual o meu legado?
No âmbito pessoal, posso dizer que nasci de uma família pobre e de valores cristãos. As minhas pequenas conquistas são grandes vitórias em relação às minhas origens. Conquistei um diploma de Ensino Superior e um certificado de pós-graduação, um emprego estável, um casamento que me faz feliz, casa própria. São passos fundamentais para se viver bem.
Então, se eu morresse hoje já teria conquistado aquilo que é fundamental para a vida. Mas se eu tivesse mais um tempo? Publicaria meus livros, fundaria uma ONG para ajudar as pessoas a ressignificarem suas vidas dilaceradas por tragédias ou condições sociais precárias. Faria uma especialização stricto sensu e me dedicaria à filosofia. Eu não poderia deixar reservar um espaço para a minha paixão por línguas e design gráfico. As artes em geral me atraem, principalmente, o desenho.
Porém, a vida não acontece de forma linear. Para dar uns exemplos, Alexandre Magno e Jesus Cristo morreram aos 33 anos e tornaram-se conhecidos mundialmente pelos seus legados. Mas milhares morrem entre 80 e 90 anos e são conhecidos somente entre familiares e amigos. Vida longa é uma dádiva, mas o que se faz de bom no tempo, mesmo que seja pouco, é muito importante. O bom seria se tivéssemos uma vida longa e bem vivida.
A felicidade é um desafio e depende da significação da vida. Podemos manter o sentido da vida mesmo diante das maiores tragédias. São duras, mas a vida não é linear mesmo. Não há planos seguros, desejamos sempre mais e morreremos com nossos projetos inacabados. No final, se ao menos, praticarmos a compaixão, a justiça e o bem. Sempre me consola a filosofia quando falamos em morte, sempre penso que o problema não é a morte, ela nossa condição, o desafio é viver significativamente nossa condição de mortal!
José Aristides.
Artigo na Fonte: TENDA DO JOSÉ ARISTIDES.
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