domingo, 1 de fevereiro de 2015

A GASTRITE

da série: pseudopoesias



A GASTRITE

Ventos balançam a goiabeira
resistente entre 
cimento e sentimentos
numa cidade que cresce

ventos limpam as placas de néon
e nos fazem dormir um sonho bom
e nos fazem bramir um som estranho
um urro de lobo solitário entre a multidão

e aí olho para os lados e para os lodos
do lixo que se acumula
do luxo que se atura
numa cidade que se aniquila

ventos sussuram gritos de solidão
esmurrando os ouvidos mais incautos
estourando os outdoores da sedução
numa cidade que fenece a cada manhã

ventos assassinam as assinaturas
deixam assaduras pelas virilhas da cidade
deixam armaguras em vítimas da cidade
que se mutila em cada muro, em cada murro.

e aí olho para os lobos e para os cordeiros
e vejo que somente os loucos estão livres
dos grilhões de uma cidade que guarda
o rancor de séculos de servidão

e aí coloco loucos, lobos e lodos
dentro de um liquidificador
solidifico, liquidifico, gasifico
e ainda não curo a gastrite dessa cidade

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