sábado, 21 de fevereiro de 2015

domingo, 8 de fevereiro de 2015

ALÉM DE PARAFUSOS

da série COSTA FERREIRA


ALÉM DE PARAFUSOS

era a noite mais linda do mundo
era o mundo mais perfeito dos mundos
era tudo que tinhamos no bolso
sem batalhas, sem bolsonaros

era a nota de nascimento do amor
era notícia não dada em qualquer jornal
era a jornada nas estrelas mais espetacular
além de qualquer espectativa ativa em alguém

mas aí a gente acorda com raios de sol
e o dia desalinha tudo que é tecido
e o dia desata todos os nos entre nós
e o dia destaca todas as estacas fincadas na alma

e lá se vou para a fábrica com suas bocas malditas
devoradoras de sonhos e esperanças
destroçadoras de sonos e crianças
desencatadoras de mundos além de parafusos

e lá vou para a lavoura com seu odor glifosatado
colher venenos em pílulas com formas de alimentos
e nada trazer para casa
e nada que der asas à imaginação

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

TAVERNA

da série COSTA FERREIRA

TAVERNA
















passeando pela cidade em chamas
atendendo chamados de emergência
pagando o preço da nossa decadência
apelando para o que resta nesse caos

alegando a mais pura inocência
tentando se agarrar na ciência
assim caminha a cidade em chamas
nada do que foi feito na cama foi sonho

passando por cima de carnes cadavéricas
chutando caveiras e cavando sepulturas
que loucura foi a nossa
para fazer a fossa para nós mesmos

que desejos estranhos e não demos conta
que a conta um dia chegaria
que tudo não passava de uma taverna
onde bebemos tragos de maldição eterna

agora é esperar a hora do último suspiro
nenhum espirro não assusta mais
nenhuma palavra vira canção de paz
nenhuma pá constroi mais castelos
apenas o desespero nos acalenta

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A LIBERDADE E O LIVRO

da série: poemas de COSTA FERREIRA


A LIBERDADE E O LIVRO

a liberdade que tenta germinar
entre grilhões e gritos

o livro em busca do leitor
entre loucos e lobos

eu que viajo pela noite
não vejo nada além de tudo

a liberdade que tenta desaterrar
os velhos sonhos fossilizados

o livro que tenta ensinar
a ser livre atrás de grades

eu que visito as trevas
não me atrevo a dizer nada

a liberdade que se liberte
como uma libélula em transe

o livro que se livre
dos textos e dos testículos

eu que vivo dividido entre livros e lutas
quero discar para a morte me libertar

A GASTRITE

da série: pseudopoesias



A GASTRITE

Ventos balançam a goiabeira
resistente entre 
cimento e sentimentos
numa cidade que cresce

ventos limpam as placas de néon
e nos fazem dormir um sonho bom
e nos fazem bramir um som estranho
um urro de lobo solitário entre a multidão

e aí olho para os lados e para os lodos
do lixo que se acumula
do luxo que se atura
numa cidade que se aniquila

ventos sussuram gritos de solidão
esmurrando os ouvidos mais incautos
estourando os outdoores da sedução
numa cidade que fenece a cada manhã

ventos assassinam as assinaturas
deixam assaduras pelas virilhas da cidade
deixam armaguras em vítimas da cidade
que se mutila em cada muro, em cada murro.

e aí olho para os lobos e para os cordeiros
e vejo que somente os loucos estão livres
dos grilhões de uma cidade que guarda
o rancor de séculos de servidão

e aí coloco loucos, lobos e lodos
dentro de um liquidificador
solidifico, liquidifico, gasifico
e ainda não curo a gastrite dessa cidade